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Peri-intervention

Anestesiar ou não anestesiar? - eis a questão.

Os sistemas de saúde precisam, desesperadamente, de encontrar formas inteligentes de atribuir tarefas de alto valor aos profissionais. Neste artigo, exploramos como otimizar as avaliações pré-anestésicas, com base nas mais recentes recomendações da Sociedade Europeia de Anestesiologia e Cuidados Intensivos.

Diogo Machado

December 6, 2024 · 4 min de leitura

O desequilíbrio patente nos sistemas de saúde atuais é evidente: as necessidades da população crescem exponencialmente, enquanto a capacidade de resposta se mantém linear. Num contexto de recursos limitados — e com um número cada vez maior de guidelines e mais robustas — torna-se urgente atribuir de forma inteligente as tarefas de maior valor aos profissionais de saúde. No entanto, as discussões sobre o potencial da tecnologia para um futuro mais saudável e eficiente, só fazem sentido se a base da prestação de cuidados for transformada, libertando médicos, enfermeiros e outros profissionais para se concentrarem em tarefas de alto valor e elevado impacto.
Neste artigo, exploramos como otimizar as avaliações pré-anestésicas, automatizando algumas tarefas.

Problema: avaliações pré-operatórias inadequadas conduzem ao cancelamento de cirurgias e não existe uma abordagem padronizada para resolver este problema.

Cerca de 25% dos cancelamentos no dia da cirurgia devem-se a avaliações pré-operatórias inadequadas.1 A evidência mostra que as consultas pré-operatórias reduzem significativamente o risco de cancelamentos e atrasos, contudo, continua a não existir uma abordagem padronizada para este processo.
Da mesma forma, não existe um protocolo padrão para determinar quais os doentes que devem realizar avaliações médicas pré-anestésicas,2 sendo que a decisão varia consoante o prestador de cuidados cirúrgicos. Em algumas práticas, apenas os doentes de alto risco são encaminhados para uma consulta, enquanto noutras é exigido que todos os doentes a realizem. Para indivíduos jovens, saudáveis e assintomáticos, estas avaliações raramente resultam em alterações na medicação ou na necessidade de exames pré-operatórios. Além disto, as evidências sugerem que os exames laboratoriais de rotina raramente influenciam a gestão cirúrgica ou melhoram os resultados clínicos. Além disso, a equipa de anestesia costuma realizar a sua própria avaliação pré-anestésica antes da cirurgia, o que pode levar a avaliações duplicadas.
Recentemente, a pandemia de COVID-19 obrigou o sistema de saúde a adotar novas práticas e a acelerar a implementação de outras que estavam a ser introduzidas de forma gradual. Em 2020, tal resultou na publicação das guidelines Anesthesia in the Context of the COVID-19 Pandemic,3 nas quais os especialistas recomendaram o uso de um questionário padronizado para rastrear sintomas de infeção por SARS-CoV-2 antes de qualquer cirurgia. Se esta abordagem foi eficaz durante a pandemia, por que não aplicá-la a todas as cirurgias?

O poder de um questionário

O uso de um questionário padronizado melhora a precisão na recolha de sintomas e garante a consistência dos exames médicos. É uma ferramenta eficaz para obter informações precisas de muitos pacientes. Os dados recolhidos são facilmente quantificáveis e rastreáveis. Para que o questionário seja eficaz, deve ter qualidades essenciais como aceitabilidade, fiabilidade e validade. As questões devem ser formuladas de forma clara, compreensível para o maior número de pacientes possível, sem ambiguidades, e baseadas em itens validados pela evidência.

What’s new? Forte recomendação para usar telemedicina e questionários padronizados na avaliação pré-anestésica.

Uma nova guideline da Sociedade Europeia de Anestesiologia e Cuidados Intensivos, publicada há umas semanas no European Journal of Anaesthesiology, recomenda:

Using telemedicine and standardized questionnaires as part of the preoperative anesthesia assessment to improve patient access to care and increase their satisfaction.4

Trata-se de uma recomendação forte (1B), o que significa que deve ser seguida na maioria dos casos, uma vez que há um alto nível de confiança de que os benefícios superam os riscos.
Segundo os autores, durante a pandemia COVID-19 houve um aumento significativo da utilização de aplicações de telemedicina e, consequentemente, um aumento da produção científica neste âmbito. Embora não permita um exame físico, a telemedicina facilita a recolha de informações antes da admissão do paciente, ajudando na triagem e rastreio de infeções suspeitas ou confirmadas, bem como na avaliação da gravidade e evolução da condição. Além disso, pode identificar pacientes que necessitam de uma avaliação pré-operatória presencial devido a múltiplas comorbilidades.

Pacote Perioperatório da UpHill: reduzir os tempos de espera para cirurgia, prevenir cancelamentos e garantir um regresso seguro a casa

A UpHill é um software de orquestração de cuidados que se integra de forma eficiente aos sistemas de informação hospitalares existentes, automatizando tarefas e preenchendo lacunas no atendimento. O nosso Pacote Peri-operatório foi desenvolvido para alcançar os seguintes objetivos:
  • Reduzir os tempos de espera para cirurgia;
  • Prevenir cancelamentos e readmissões;
  • Melhorar a eficiência das equipas clínicas;
  • Promover um regresso seguro a uma vida ativa;
Para alcançar esses objetivos, focamo-nos em três áreas-chave:
  1. Reduzir as interações médicas pré-cirúrgicas, aliviando a carga sobre as equipas de anestesiologia.
  2. Automatizar o cálculo do risco anestésico, permitindo que a atenção seja direcionada aos pacientes de alto risco e criando um "fast track" para os de baixo risco.
  3. Optimizar e padronizar os processos de seguimento, para diminuir a carga de trabalho das equipas de enfermagem e reduzir o risco de readmissões após a alta.

Um futuro (mais próximo do que parece) onde a tecnologia liberta as equipas de saúde das tarefas de baixo valor

Foi com muito entusiasmo que, na UpHill, vimos estas guidelines serem publicadas, dado que se alinham perfeitamente com a visão da equipa clínica para otimizar o processo perioperatório, já em prática em várias instituições de saúde.
Usando questionários e escalas cientificamente validados para estratificar os pacientes de acordo com o risco individual e os risco da cirúrgia, garantimos que todos recebam uma avaliação pré-anestésica. Assim, as equipas de saúde podem concentrar o seu tempo nos pacientes de maior risco. Esta abordagem distingue claramente as tarefas de baixo valor das de alto valor, tornando os sistemas de saúde mais eficientes e sustentáveis.
Do ponto de vista do paciente, os benefícios são claros. Os pacientes fornecem informações sobre o seu estado de saúde no momento e local que lhes sejam mais convenientes. Esta abordagem inclusiva garante que todos sejam avaliados, e, simultaneamente, elimina consultas presenciais desnecessárias, reduz os tempos de espera e permite que os profissionais de saúde se concentrem nos casos mais complexos.
Por isso, para responder à pergunta de partida: sim, anestesia de forma segura.

Referências

  1. Knox, M., Myers, E., & Hurley, M. (2009). The impact of pre-operative assessment clinics on elective surgical case cancellations. The surgeon: journal of the Royal Colleges of Surgeons of Edinburgh and Ireland, 7(2), 76–78. https://doi.org/10.1016/s1479-666x(09)80019-x
  2. Khera, K. D., Blessman, J. D., Deyo-Svendsen, M. E., Miller, N. E., & Angstman, K. B. (2022). Pre-Anesthetic Medical Evaluations: Criteria Considerations for Telemedicine Alternatives to Face to Face Visits. Health services research and managerial epidemiology, 9, 23333928221074895. https://doi.org/10.1177/23333928221074895
  3. Velly, L., Gayat, E., Quintard, H., Weiss, E., De Jong, A., Cuvillon, P., Audibert, G., Amour, J., Beaussier, M., Biais, M., Bloc, S., Bonnet, M. P., Bouzat, P., Brezac, G., Dahyot-Fizelier, C., Dahmani, S., de Queiroz, M., Di Maria, S., Ecoffey, C., Futier, E., … Garnier, M. (2020). Guidelines: Anaesthesia in the context of COVID-19 pandemic. Anaesthesia, critical care & pain medicine, 39(3), 395–415. https://doi.org/10.1016/j.accpm.2020.05.012
  4. Lamperti, M., Romero, C. S., Guarracino, F., Cammarota, G., Vetrugno, L., Tufegdzic, B., Lozsan, F., Macias Frias, J. J., Duma, A., Bock, M., Ruetzler, K., Mulero, S., Reuter, D. A., La Via, L., Rauch, S., Sorbello, M., & Afshari, A. (2025). Preoperative assessment of adults undergoing elective noncardiac surgery: Updated guidelines from the European Society of Anaesthesiology and Intensive Care. European journal of anaesthesiology, 42(1), 1–35. https://doi.org/10.1097/EJA.0000000000002069

Diogo Machado

Medical Advisor

Senior Anesthesiologist with proficiency in Acute and Chronic Pain. Emergency Physician and Flight Doctor. Passionate about AI, Data Science and Programming.

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