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Peri-intervention

5 dicas para aumentar a eficiência perioperatória

À medida que a procura por cuidados de saúde e as listas de espera cirúrgicas aumentam, a maximização do custo-oportunidade e da capacidade de recursos emerge enquanto preocupação central para os gestores hospitalares. Conheça 5 dicas para aumentar a eficiência do bloco operatório através de alterações nas jornadas perioperatórias.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

January 26, 2023 · 10 min de leitura

surgery
Os departamentos cirúrgicos são responsáveis por grande parte dos custos e da produção hospitalar. Os blocos operatórios, em particular, contribuem para quase dois terços das receitas totais de um hospital, mas também representam cerca de 40% das suas despesas totais1, incluindo mão-de-obra e custos operacionais.
Assim, maximizar o custo-oportunidade e a capacidade impõe-se como prioridade para os prestadores de cuidados de saúde, que enfrentam uma procura crescente de serviços, incluindo cirurgia.

Back to basics: eficiência não é ficção científica

Quando o futuro da cirurgia está em discussão, os especialistas em tecnologia médica antecipam as últimas tendências. Áreas como a big data, inteligência artificial e machine learning desempenham um papel cada vez mais relevante no planeamento, tomada de decisão e adoção das melhores práticas, enquanto a realidade aumentada, a realidade mista e a robótica são apontadas como tecnologias essenciais para o futuro dos dispositivos cirúrgicos.
Estes conceitos fancy podem parecer demasiado complexos, afastados da realidade hospitalar e bastante caros, mas há boas notícias: o principal motor da eficiência são os processos - uma conclusão talvez não tão extravagante, mas rentável.
O conceito de eficiência tem sido descrito como a capacidade de executar ações de uma forma que conduz à redução de custos, sem afetar a qualidade. Outros autores definem-no enquanto capacidade de executar as ações certas, combinando produtividade e qualidade2. Por sua vez, a qualidade em saúde é entendida como "a medida em que os serviços de saúde prestados a indivíduos e populações de pacientes melhoram os resultados desejados", sendo seguros, eficazes, oportunos, eficientes, equitativos, e centrados na pessoa3.
Neste blog post, referimo-nos à eficiência enquanto capacidade de aumentar a capacidade e a qualidade, reduzindo, simultaneamente, os custos.

1. Implemente um pathway cirúrgico e mantenha uma única fonte de verdade para melhorar a visibilidade e a colaboração

A eficiência perioperatória começa muito antes da cirurgia. A falta de informação sobre o paciente, nos momentos precedentes à cirurgia, pode conduzir a decisões erradas e a perda de tempo, sendo esta uma realidade particularmente relevante em doenças complexas com abordagens multidisciplinares.
Por exemplo, operar um doente com cancro sem que exista um acordo multidisciplinar face ao tratamento recomendado pode levar a piores resultados clínicos e, consequentemente, a despesas adicionais.
Criar uma jornada perioperatória eficiente é muito semelhante a liderar uma orquestra. Há um caminho pré-definido a ser seguido - a pauta musical - uma fonte única de verdade em tempo real - o maestro - várias peças móveis entrelaçadas - os instrumentos musicais. Todos eles devem estar afinados e seguir o mesmo ritmo. Se um instrumento estiver desafinado ou perder o compasso, toda a atuação será afetada.
Tal como a orquestra, as jornadas perioperatórias reúnem múltiplas especialidades e profissionais - cirurgiões, anestesistas, técnicos de diagnóstico, entre outros. Há um plano de cuidados que detalha sequencialmente as atividades que devem ser executadas e várias decisões a serem tomadas, considerando o estado do paciente, comorbilidades, resultados de exames, etc. Mas falta uma fonte de verdade única e atualizada em tempo real.
O que falta?
  1. Um clinical pathway suficientemente abrangente para cobrir as ações pré, intra e pós operatórias.
  2. Uma única fonte de verdade, atualizada dinamicamente com base no clinical pathway.
Na prática:
  • Crie um plano de cuidados multidisciplinar para a cirurgia. Para facilitar, pode começar por um plano de cuidados genérico (ambulatório vs. programado) e depois especificar por patologia ou procedimento.
  • Garanta visibilidade total e em tempo real do progresso do doente no plano de cuidados.
  • Certifique-se de que o software utilizado para acompanhar o plano de cuidados comunica com outros sistemas hospitalares e é automaticamente atualizado à medida que novos dados estão disponíveis.

2. Estratifique os doentes para evitar cancelamentos devido a condições clínicas inesperadas

Como abordado no artigo anterior, o cancelamento de cirurgias é a principal causa de ineficiência no bloco operatório4. Em particular os cancelamentos no próprio dia da cirurgia representam uma perda significativa de receitas e desperdício de recursos, aumentando as já extensas listas de espera, obrigadas, assim, a acomodar as operações canceladas - na grande maioria, evitáveis.
Por exemplo, a admissão de um paciente de alto risco sem a adequada estratificação do risco anestésico (ASA) no bloco operatório irá, certamente, conduzir ao cancelamento da cirurgia.
Cerca de 30% dos cancelamentos ocorrem por motivos clínicos5 que poderiam beneficiar de uma avaliação e estratificação perioperatória mais precisa, incluindo6:
  1. Documentação sobre a(s) condição(ões) para a(s) qual(is) a cirurgia é necessária;
  2. Avaliação de outras condições que podem causar problemas durante e após a cirurgia;
  3. Definição do risco perioperatório;
  4. E optimização da condição clínica a fim de reduzir a morbilidade ou mortalidade.
Esta estratégia já demonstrou ser eficaz na redução dos cancelamentos de cirurgias eletivas e, em particular, a redução significativa dos cancelamentos por razões clínicas7.
Na prática:
  • Inclua critérios de elegibilidade e critérios de exclusão nos clinical pathways.
  • Utilize scores de estratificação de risco e questionários validados.
  • Antecipe a estratificação perioperatória para garantir que as equipas tenham a informação necessária para decidir atempadamente.
  • Crie critérios claros para a decisão de realização de cirurgia, incluindo quem precisa de ser informado.

3. Automatize tarefas repetitivas para libertar o tempo de cirurgiões e anestesistas

Voltando à metáfora da orquestra, muitas das atividades que antecedem ou precedem um concerto não são executadas por músicos, de forma a que este possam concentrar-se no seu maior talento - tocar. A nossa sugestão é que a mesma lógica seja implementada nos hospitais. Saiba mais sobre como escolher quais as actividades que devem ser automatizadas.
Do ponto de vista da melhoria da eficiência, a automação é útil em dois âmbitos:
  1. Avaliação e estratificação do paciente antes da cirurgia, melhorando a navegação ao longo da jornada e reduzindo os cancelamentos de última hora devido a razões clínicas.
  2. Acompanhamento do paciente após a cirurgia, aumentando a segurança do paciente e a confiança dos médicos nas altas precoces.
A automação está a revolucionar várias indústrias, incluindo os cuidados de saúde, permitindo aos hospitais externalizar as tarefas mais demoradas, aliviar a carga administrativa e permitir aos profissionais de saúde refocarem-se nos doentes. Esta capacidade é potencialmente relevante num contexto em que praticamente metade dos médicos relata episódios de burnout8 e quase 60% sublinha "demasiadas tarefas burocráticas" como a sua causa principal9. Pensando nos departamentos cirúrgicos, as estatísticas apontam para que os médicos internos de cirurgia geral gastem pelo menos 30% do seu tempo nos sistemas de registos eletrónicos10 e os anestesistas percam quase 20% do tempo em tarefas administrativas11.
Na prática:
  • Utilize uma abordagem omnicanal (SMS/Voice/Web) para recolher automaticamente os dados dos doentes antes das consultas/cirurgia.
  • Estratifique os doentes automaticamente, utilizando questionários validados e as capacidades de interoperabilidade do sistema de registos eletrónicos para interpretar a informação recebida.
  • Forneça informação acionável às suas equipas, o que significa que podem rastrear rapidamente os doentes de baixo risco para cirurgia e investir o seu tempo e conhecimento em pacientes complexos.
  • Utilize as capacidades de interoperabilidade do sistema de registos eletrónicos para automatizar a prescrição de exames pré-cirúrgicos e gerar automaticamente registos médicos.
  • Utilize o mesmo modelo de comunicação para acompanhar os doentes após a cirurgia, a fim de evitar a re-hospitalização sem aumentar o volume de trabalho das equipas.

4. Capacite os doentes e promova comportamentos informados e baseados em evidência

Ser submetido a uma cirurgia pode ser um processo assustador e, neste contexto, promover a educação e literacia dos doentes em matéria de cirurgia, anestesia, cuidados intraoperatórios e cuidados pós-operatórios são essenciais para reduzir a ansiedade, melhorar o cumprimento das recomendações pré-cirúrgicas e facilitar a recuperação.
Mais uma vez, não se pode esperar que as pessoas comuns que assistem a uma peça pela primeira vez compreendam as várias camadas de simbolismo inerentes à expressão artística. As abordagens encontradas para ultrapassar tais assimetrias vão desde as folhas de sala a programas de mediação cultural que oferecem ao público uma oportunidade de explorar o contexto histórico, sociológico e artístico de uma determinada performance.
É necessário aplicar um método semelhante para assegurar que os doentes se sentem confiantes para prosseguir com as cirurgias, reduzir os cancelamentos ou a baixa adesão ao plano de tratamento pré-cirúrgico, que torna a cirurgia inviável. Tal aspeto é ainda mais relevante quando 1 em cada 5 cancelamentos12 são fruto da não comparência dos pacientes e 50% dos doentes13 relatam um aumento dos níveis de ansiedade devido à falta de comunicação e informação por parte das equipas clínicas.
Na prática:
  • Forneça informação sobre a doença e a jornada de cuidados adaptada ao nível de literacia dos doente.
  • Certifique-se de que os doentes sabem como navegar os cuidados - o que fazer - a cada momento.
  • Mantenha pontos de contacto regulares para aumentar a sua confiança na autogestão.
  • Forneça um canal intuitivo e rápido através do qual os doentes possam reportar qualquer sinal ou sintoma de agravamento do estado clínico, transparecendo o acompanhamento próximo e atento por parte das equipas de saúde.
Para mais informações sobre a importância de orientar os comportamentos com base em evidência, leia o nosso blog post Evidence-informed health: post COVID-19 lessons.

5. Construa uma cultura de melhoria contínua através de metodologias lean

No bloco operatório, cada minuto desperdiçado ameaça a qualidade dos cuidados e a segurança financeira. A utilização de metodologias lean para abordar estas questões pode fazer uma enorme diferença em termos de qualidade, eficiência e produtividade.
Inicialmente estudado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts para melhorar a eficiência através da redução das atividades "sem valor acrescentado" - conhecidas como desperdício - o método Lean foi aplicado em diferentes contextos relacionados com os processos clínicos para remover desperdícios, identificar ineficiências e melhorar os resultados.
Na prática:
  • Padronize os processos colaterais, tais como o a esterilização, análises e agendamento.
  • Padronize os fluxos de preparação e transferência de serviço no pós-operatório.
  • Monitorize e analise as oportunidades de melhoria de forma a envolver as equipas numa cultura de melhoria contínua.

Conclusões finais:

  • A eficiência do bloco operatório tem implicações na redução de custos, satisfação dos pacientes e produtividade da equipa clínica.
  • Embora moroso, o mapeamento de cada etapa na jornada do doente - desde a consulta pré-operatória até à alta - tem múltiplos benefícios relacionados com a redução de custos e melhoria da qualidade.
  • A colaboração de múltiplos profissionais e níveis de cuidados, a estratificação dos doentes e automatização de tarefas de baixo valor constituem pontos-chave para aumentar a capacidade.
Entre em contacto para obter mais informações acerca da solução de otimização pericirurgica da UpHill.

Referências

  1. Oh HC, Phua TB, Tong SC, Lim JFY. Assessing the Performance of Operating Rooms: What to Measure and Why? Proceedings of Singapore Healthcare. 2011;20(2):105-109. doi:10.1177/201010581102000206
  2.  Erebouni Arakelian, Lena Gunningberg, Jan Larsson, How operating room efficiency is understood in a surgical team: a qualitative study, International Journal for Quality in Health Care, Volume 23, Issue 1, February 2011, Pages 100–106, https://doi.org/10.1093/intqhc/mzq063
  3. Quality of Care. (n.d.). Retrieved January 20, 2023, from https://www.who.int/health-topics/quality-of-care#tab=tab_1
  4. Abate, S. M., Chekole, Y. A., Minaye, S. Y., & Basu, B. (2020). Global prevalence and reasons for case cancellation on the intended day of surgery: A systematic review and meta-analysis. International journal of surgery open, 26, 55–63. https://doi.org/10.1016/j.ijso.2020.08.006
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  6. Zambouri A. (2007). Preoperative evaluation and preparation for anesthesia and surgery. Hippokratia, 11(1), 13–21.
  7. Knox, M., Myers, E., & Hurley, M. (2009). The impact of pre-operative assessment clinics on elective surgical case cancellations. The surgeon : journal of the Royal Colleges of Surgeons of Edinburgh and Ireland7(2), 76–78. https://doi.org/10.1016/s1479-666x(09)80019-x
  8. Carbajal, E. (n.d.). 29 physician specialties ranked by 2021 Burnout rates. Retrieved January 20, 2023, from https://www.beckershospitalreview.com/hospital-physician-relationships/29-physician-specialties-ranked-by-2021-burnout-rates.html%E2%80%8B
  9. Wolstenholm, J. (2022, November 18). Physician burnout in 2022: Everything you need to know. Retrieved January 20, 2023, from https://www.leveragerx.com/blog/physician-burnout-report/
  10. Cox, M. L., Farjat, A. E., Risoli, T. J., Peskoe, S., Goldstein, B. A., Turner, D. A., & Migaly, J. (2018). Documenting or Operating: Where Is Time Spent in General Surgery Residency?. Journal of surgical education, 75(6), e97–e106. https://doi.org/10.1016/j.jsurg.2018.10.010
  11. Compère, V., Besnier, E., Clavier, T., Byhet, N., Lefranc, F., Jegou, F., Sturzenegger, N., Hardy, J. B., Dureuil, B., & Elie, T. (2022). Evaluation of the Time Spent by Anesthetist on Clinical Tasks in the Operating Room. Frontiers in medicine, 8, 768919. https://doi.org/10.3389/fmed.2021.768919
  12. Kumar, R., & Gandhi, R. (2012). Reasons for cancellation of operation on the day of intended surgery in a multidisciplinary 500 bedded hospital. Journal of anaesthesiology, clinical pharmacology, 28(1), 66–69. https://doi.org/10.4103/0970-9185.92442
  13. Mekonen, Semagn & Ali, Yigrem & Basu, Bivash. (2020). Global Prevalence and determinants of preoperative anxiety among surgical patients: A systematic review and Meta-analysis. 10.1016/j.ijso.2020.05.010.
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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