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Oncology

Oncologia otimizada: automatizar o trabalho invisível

No contexto da oncologia, dada a complexidade das jornadas, os doentes enfrentam, frequentemente, desafios relacionados com cuidados multidisciplinares, pressões de tempo e a dispersão de informação. Ultrapassar tais obstáculos torna-se crucial não só para melhorar o prognóstico de cada paciente, mas também para otimizar os fluxos de trabalho dos profissionais e os processos de tomada de decisão.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

November 30, 2023 · 7 min de leitura

O cancro manifesta-se como uma condição multifacetada, exigindo intervenções de variados profissionais de saúde ao longo de períodos de tempo prolongados. Num estudo realizado no Reino Unido, verificou-se que pacientes tratados durante menos de um ano consultaram, em média, 28 médicos, sendo o número mínimo de médicos encontrado 13.1 Um valor que reflete a complexidade destas jornadas e a diversidade de profissionais envolvidos, mesmo considerando apenas médicos.
Por outro lado, o tempo assume um papel crítico na jornada de um doente oncológico: cada mês de atraso no tratamento do cancro pode aumentar o risco de morte em cerca de 10%.2 Assim, intervenções rápidas e precisas têm um impacto significativo no prognóstico, aumentando a pressão para coordenar cuidados de forma oportuna e eficaz.

Coordenação de Cuidados: os obstáculos que persistem

A Agência para a Investigação e Qualidade em Saúde afirma que:

A coordenação de cuidados é a organização deliberada das atividades de cuidados ao paciente entre dois ou mais participantes (incluindo o paciente) envolvidos na prestação de cuidados. Organizar os cuidados envolve a mobilização de pessoal e outros recursos necessários para realizar todas as atividades de cuidados ao paciente requeridas e é frequentemente gerida pela troca de informações entre os participantes responsáveis por diferentes aspetos dos cuidados.3

Apesar de amplamente reconhecida a importância da coordenação de cuidados e dos progressos alcançados, alcançar essa coordenação ainda é um desafio, especialmente no contexto das jornadas oncológicas, que podem manifestar-se em diferentes âmbitos:
  • Barreiras de comunicação: diferentes especialidades utilizam terminologias e abordagens distintas, resultando em lacunas na comunicação que podem impedir a colaboração eficaz.
  • Desafios de coordenação: coordenar consultas, planos de tratamento e intervenções entre várias especialidades e departamentos pode ser complexo, podendo resultar em atrasos ou inconsistências nos cuidados.
  • Perspetivas diferentes: cada especialidade pode ter perspetivas ou prioridades diferentes, o que pode resultar em opiniões conflituosas sobre abordagens de tratamento ou percursos de cuidados.
  • Integração e partilha de dados: garantir a partilha e integração contínuas de dados entre equipas multidisciplinares e sistemas continua a ser um desafio devido à coexistência de plataformas e formatos de dados diversos.
  • Desafios na tomada de decisão: equilibrar diversas opiniões e experiências ao tomar decisões críticas de tratamento pode ser desafiante e, por vezes, pode atrasar intervenções oportunas.
  • Alocação de recursos: alocar recursos - tanto humanos como equipamento - entre várias especialidades, de forma a otimizar os cuidados ao paciente sem sobrecarregar nenhuma área, pode ser difícil.
De facto, a evidência mostra que doentes, cuidadores e clínicos permanecem envolvidos numa quantidade significativa de "trabalho invisível" para facilitar a coordenação de cuidados. Tal envolve gastar tempo para superar barreiras como sistemas de registos médicos não interoperáveis, suporte de decisão inadequado e sistemas de comunicação subótimos. Estas barreiras dificultam a coordenação eficaz entre a rede de sistemas de saúde, clínicos, pacientes e cuidadores responsáveis por coordenar os cuidados de forma coletiva. Apesar de não estarem completamente quantificados, os custos e benefícios desse esforço na qualidade de vida, produtividade e outros resultados em saúde, são insustentáveis.4
A falta de coordenação pode levar os pacientes a "perderem-se" no sistema e a não conseguirem aceder a serviços adequados, assim como a uma utilização mais frequente e não planeada dos serviços de saúde.

Jornadas inteligentes, automatizadas e baseadas em evidência para guiar os cuidados

Num artigo anterior, explorámos a importância de eliminar as lacunas existentes nos sistemas de saúde e delineámos os pré-requisitos essenciais para alcançar esta proeza. Tudo começa por delinear jornadas de cuidados abrangentes e multidisciplinares. Estas ferramentas funcionam de forma semelhante a um mapa, interligando múltiplos pontos do sistema e direcionando o curso dos cuidados. Em última análise, funcionam como um consenso multidisciplinar garantindo que cada paciente recebe exatamente os cuidados certos em cada momento.
Além disso, as jornadas de cuidados fomentam a coordenação entre vários níveis de cuidados e profissionais de saúde e facilitam a referenciação sem falhas entre ambientes de cuidados, garantindo que informações e tratamentos sejam consistentemente comunicados e executados.
As jornadas de cuidados da UpHill são planos de cuidados multidisciplinares, passo-a-passo que guiam a progressão do paciente através de uma sequência de marcos traduzidos de guidelines e evidência científica para contextos personalizados, permitindo o apoio à decisão e automação digital de atividades clínicas, com o objetivo de padronizar os cuidados e melhorar os resultados e experiência do paciente.
Portanto, referimo-nos a um sistema de orquestração de cuidados que integra ferramentas de apoio à decisão e comunicação com capacidades de automação. Este sistema utiliza a automação para lidar com tarefas administrativas ou clínicas repetitivas, permitindo aos prestadores de cuidados de saúde amplificar os seus esforços e concentrarem-se em tarefas especializadas, atendendo às complexidades das necessidades dos pacientes.
Além disso, estabelece um canal acessível para interagir, monitorizar e fornecer cuidados aos doentes durante os intervalos entre as interações padrão de cuidados. Este sistema utiliza informações recolhidas para atualizar automaticamente o estado da jornada do paciente e alertar, prontamente, os profissionais de saúde sobre quaisquer sinais de alerta.

Tecnologia interoperável e robusta para garantir a rastreabilidade do doente

No seio da discussão sobre a necessidade de coordenação de cuidados, é inevitável recordar os quatro níveis de integração de cuidados delineados pela Nuffield Trust.5
  1. A integração organizacional consiste na elaboração de políticas centradas na coordenação de estruturas e sistemas entre organizações e no estabelecimento de acordos contratuais ou cooperativos entre as mesmas.
  2. A integração administrativa ou funcional centra-se em funções não-clínicas de suporte e back-office, no sentido de partilhar dados e sistemas de informação entre as organizações.  
  3. A integração de serviços visa coordenar diferentes serviços, através de equipas multidisciplinares, criar estruturas únicas de referenciação ou processos únicos de avaliação clínica. 
  4. A integração clínica promove a prestação de cuidados através de um processo único e coerente, quer entre diferentes profissionais, quer entre diferentes níveis de cuidados. Neste nível inclui-se o desenvolvimento de guidelines partilhadas, protocolos ou jornadas de cuidados.
Mais uma vez, apesar dos esforços notáveis, um relatório da Comissão Europeia6 destaca que um Registo Eletrónico de Saúde (RES) interoperável ainda não é generalizado na maioria dos sistemas estudados. Muitos doentes enfrentam desafios ao aceder e utilizar os seus dados ou transferi-los entre prestadores. A prevalência de sistemas interoperáveis entre regiões ou países inteiros não é substancial.
Além disso, persistem questões mais críticas relacionadas à integração de serviço e clínica. Há poucas jornadas de cuidados integrados, multidisciplinares e abrangentes implementadas e os critérios de referenciação não são claros, pelo que os diferentes níveis de cuidados não estão clinicamente ligados. Além disso, ainda é difícil aceder a informação de saúde estruturada, compilada e atualizada em tempo real, de acordo com a evolução de cada paciente na sua jornada.
Assim, nunca é demais realçar a importância da interoperabilidade num software de orquestração de cuidados para otimizar a prestação de cuidados de saúde, nomeadamente em jornadas oncológicas. A interoperabilidade, como o HL7, atua como ponte, facilitando a comunicação e troca de dados entre diversos sistemas de informação de saúde. Num ambiente onde a informação está dispersa por várias plataformas, a interoperabilidade assegura que os dados do paciente fluem sem esforço entre sistemas, promovendo o trabalho em equipa entre os profissionais de saúde. Este sistema interligado não só simplifica os procedimentos, mas também melhora a precisão e a velocidade da tomada de decisão, conduzindo a uma melhor prestação de cuidados ao paciente.

Benefícios da UpHill para coordenar jornadas oncológicas

  • Visibilidade multidisciplinar: ao fornecer uma jornada digital do doente, atualizada em tempo real, a UpHill permite uma visão abrangente do progresso do paciente para todos os profissionais envolvidos, transcendendo especialidades e instituições, e fornecendo acesso ao histórico médico completo do paciente.
  • Rastreabilidade otimizada: ao estruturar e automatizar follow-ups e utilizar essa informação para atualizar o estado do doente, a UpHill aprimora a rastreabilidade dos doentes ao longo da jornada, garantindo continuidade nos cuidados e possibilitando a tomada de decisões informadas em cada etapa do tratamento.
  • Sistemas interligados: ao utilizar padrões de interoperabilidade, a UpHill assegura a integração perfeita com os sistemas de informação hospitalar, automatiza tarefas como pedidos de exames e marcação de consultas, e centraliza todas as informações numa única fonte de verdade.
  • Educação e capacitação do doente: fornecendo um portal com informações detalhadas para cada etapa da jornada, a UpHill melhora a navegação do paciente e a sua adesão aos planos de cuidados.

Referências

  1. Smith SD, Nicol KM, Devereux J, Cornbleet MA. Encounters with doctors: quantity and quality. Palliat Med. 1999 May;13(3):217-23. doi: 10.1191/026921699668267830. PMID: 10474708.
  2. Chapter 2. What is Care Coordination?. Content last reviewed June 2014. Agency for Healthcare Research and Quality, Rockville, MD.
  3. Sallie J Weaver, Paul B Jacobsen, Cancer care coordination: opportunities for healthcare delivery research, Translational Behavioral Medicine, Volume 8, Issue 3, June 2018, Pages 503–508, https://doi.org/10.1093/tbm/ibx079
  4. Scobie S (2021) Integrated care explained, Nuffield Trust explainer. Available at: https://www.nuffieldtrust.org.uk/resource/integrated-care-explained  (Accessed: February 22, 2023).
  5. Interoperability of Electronic Health Records in the EU. (2021).  The European Commission. Available at: https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/library/interoperability-electronic-health-records-eu  (Accessed: February 22, 2023).
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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