Voltar ao Blog

Chronic Diseases

Patient Initiated Follow-up: o que é e qual a relevância?

Neste blogpost, apresentamos o Patient Initiated Follow-up enquanto estratégia para capacitar os doentes a detetar sinais de alerta e ajudar os profissionais a identificar precocemente situações de descompensação, reduzindo as consultas desnecessárias e hospitalizações evitáveis.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

March 1, 2023 · 8 min de leitura

Mother and sick daughter
Os sistemas de saúde atuais estão sob pressão sem precedentes, a população nunca exigiu tanto do setor da saúde, os prestadores precisam urgentemente de adequar os recursos clínicos às necessidades dos pacientes e satisfazer as suas expectativas para prosperar num panorama de prestação em rápida e constante evolução.
Neste contexto, o foco deste artigo é o Patient Initiated Follow-up (PIFU) como estratégia para reduzir consultas desnecessárias ou canceladas e hospitalizações evitáveis.
Porque a procura não vai parar e os recursos não seguem a mesma tendência crescente.

Mais doentes, menos profissionais de saúde, oportunidades para melhorar os outcomes desperdiçadas e novas expectativas

O contexto atual é moldado, em pano de fundo, pelo crescimento contínuo da população global, por sua vez alimentado pela esperança de vida progressivamente mais longa. Neste contexto o volume e necessidades aumentam, mas, na sua maioria, permanecem sem resposta:
  • As estimativas apontam para que a população mundial com 60 anos ou mais atinja o marco dos 2 mil milhões em 2050, praticamente duplicando os números atuais, evidenciando-se, assim, a idade como um fator de risco adicional para a multimorbilidade.1
  • Para responder ao aumento do número de doentes com múltiplas doenças crónicas seriam precisos mais 40 milhões de profissionais de saúde, a nível mundial, até 2030.2
  • Na Europa, mais de 40% dos médicos irão reformar-se nos próximos 10 anos.3
Ao mesmo tempo, as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde apelam à concertação de estratégias capazes de garantir a cobertura universal e eficaz da saúde e bem-estar para todos, através da transformação dos sistemas de saúde originalmente concebidos para lidar, maioritariamente, a condições agudas.
A verdade é que as abordagens puramente baseadas numa lógica temporal, sequencial e padronizada não são adequadas para satisfazer as necessidades atuais, no que diz respeito à gestão de doenças crónicas, levando assim a uma utilização inadequada dos recursos de saúde e a desafios de sustentabilidade financeira:
  • 25% das hospitalizações poderiam ser evitadas com intervenções atempadas4 e cerca de 40% dos utilizadores frequentes do Serviço de Urgência relatam dor crónica.5
  • 70% das consultas de seguimento podiam ser substituídas por pontos de contacto por telefone ou vídeo ou não precisavam de acontecer de todo.6
  • 3,5 milhões de internamentos potencialmente evitáveis representaram 33,7 mil milhões de dólares nos custos hospitalares agregados dos EUA, no ano de 2017.7
  • Em Portugal, o custo total estimado associado aos internamentos hospitalares evitáveis, em 2015, foi de 250 milhões de euros, correspondendo a 6% do orçamento total dos hospitais públicos.8
  • No Reino Unido, 5% dos utilizadores mais frequentes dos cuidados de saúde representam custos anuais 20 vezes superiores aos dos restantes pacientes, mas cerca de 10% desses custos são potencialmente evitáveis.9
Finalmente, as expectativas dos novos utentes, alinhadas com a definição de saúde como “capacidade de adaptação e de auto-gestão, face aos desafios sociais, físicos e emocionais",10 desafiam a relação tradicional entre médico-doente e pressionam as instituições a testar estratégias e serviços não tradicionais para melhorar a navegação dos cuidados. De facto, as análises recentes às tendências de mercado na influência crescente que as capacidades digitais e a facilidade de navegação têm no momento de escolha de um prestador de cuidados de saúde.

Patient Initiated Follow-up: a mudança de paradigma

O Patient Initiated Follow-up consiste em dar ao doente a flexibilidade e conveniência de relatar exacerbações de sintomas e ter acesso às consultas de seguimento quando mais precisa deles. Trata-se de "tornar as consultas mais reativas às necessidades dos pacientes". Uma mudança radical porque, como descrito pelo Nuffield Trust:

Under current practice, the timing of follow-up care is not necessarily decided by a change in a patient’s condition, or when a patient requires or wants extra support. Conversely, when a patient’s symptoms or circumstances do change, they may experience long waits for an appointment as capacity has been devoted to routine follow-up.12

Qualquer profissional habituado a gerir doenças crónicas - especialmente aquelas caracterizadas por exacerbações agudas - sabe que os episódios agudos não acontecem com data e hora marcadas. Assim, a probabilidade de descompensação do doente entre duas consultas agendadas seguindo uma abordagem de follow-up tradicional e fixo é altamente variável e imprevisível.
Ao capacitar os pacientes para identificar com precisão os sinais de alerta e reportá-los, de forma segura e conveniente, à equipa clínica responsável pelo seu plano de cuidados, esta estratégia garante que:
  • Os pacientes têm acesso a cuidados mais convenientes e mais rápidos quando mais precisam, reduzindo ao mesmo tempo a probabilidade de experienciarem piores outcomes e as deslocações desnecessárias para consultas desnecessárias ou não resolutivas.
  • As equipas de saúde identificam antecipadamente os sinais de descompensação e realizam intervenções atempadas, enquanto reduzem o tempo desperdiçado com pacientes estáveis, libertando assim capacidade para quem mais precisa.
  • Os prestadores reduzem os custos de consultas canceladas ou intervenções de alto custo, ao mesmo tempo que melhoram a eficiência alocativa, periodizando o foi das equipas nos pacientes que mais necessitam.
  • Os sistemas de saúde aumentam o acesso e cobertura dos cuidados de saúde, reduzindo as desigualdades.

A pergunta para um milhão: o PIFU funciona?

Um relatório da Nuffield Trust examinou os efeitos do PIFU na utilização dos serviços, custos, experiência do paciente e/ou resultados clínicos.
  1. Capacidade de ambulatório: vários estudos - que variam geograficamente da Dinamarca ao Reino Unido, e clinicamente da reumatologia à oncologia - mostram que o PIFU reduz significativamente o número de consultas externas em comparação com a estratégia de follow-up tradicional e fixo.13-20
  2. Custos dos serviços de saúde: o PIFU foi associado a uma redução de 90% nos custos em comparação com o agendamento fixo de consultas (custos estimados com base em standards of care ou guidelines nacionais).16, 21, 22
  3. Resultados clínicos: a evidência sugere que o PIFU pode reduzir o número de consultas externas sem prejudicar a qualidade, segurança ou bem-estar do doente. Adicionalmente, há condições particulares - tais como artrite reumatóide, espasmos hemifaciais, cancro colorretal ou diabetes mellitus tipo 1 - em que esta estratégia tem um impacto benéfico, estatisticamente significativo, para os pacientes, no que diz respeito à qualidade de vida. 13, 20, 23-25

Patient Initiated Follow-up com a UpHill: empoderamento mútuo

Embora a capacidade de um paciente poder desencadear uma consulta quando necessita seja intrinsecamente uma boa estratégia, o Patient Initiated Follow-up não é um mar de rosas.
Primeiro porque pode não ser a estratégia mais adequada para todos os doentes nem para todas as condições clínicas. Em segundo lugar, deve ser assegurado que as equipas de saúde dispõem de todas as ferramentas e informação necessárias para reduzir eficazmente as lacunas e ineficiência existentes nos cuidados de saúde, permitindo ao mesmo tempo a sua eficácia e produtividade.
Se é verdade que muitos doentes apresentam níveis de auto-gestão muito satisfatórios e estão, permanentemente a par do seu estado de saúde, outros podem não estar suficientemente informados e capacitados para reconhecer os sinais de alerta. Ou seja, esta estratégia supõe a capacitação dos pacientes para a auto-gestão, dando-lhes confiança para reconhecer e agir sobre mudanças nos seus sintomas.
Por outro lado, mesmo com uma estratégia de PIFU aplicada no seguimento de doentes crónicos, haverá sempre a necessidade de estratificar os pacientes e ajustar a sua jornada de cuidados de acordo com o risco. Significa assumir que nem todos os sinais de alerta comunicados devem desencadear uma consulta presencial. Assim, os profissionais de saúde devem também dispor das ferramentas para decidir com precisão como proceder, de preferência sem que isso implique volume de trabalho adicional.

Como é que a UpHill ajuda?

  • Educação e capacitação do doente através de um portal dedicado, para facilitar a identificação de sinais e sintomas, navegação e adesão ao plano de cuidados.
  • Autonomia do doente para comunicar sinais de deterioração, utilizando um assistente virtual omnicanal.
  • Estratificação automática do doente através de questionários e scores validados, encaminhando o doente para o nível de cuidados mais adequado.
  • Sugestão de ações seguintes com base num sistema de suporte à decisão previamente validado.
A abordagem de Patient Initiated Follow-up permite a tomada de decisões partilhada, reduz as consultas desnecessárias e as hospitalizações evitáveis. Trata-se de capacitação mútua uma vez que proporciona aos pacientes a oportunidade de gerirem a sua saúde e aos profissionais a capacidade de prestar cuidados aos pacientes que mais necessitam, com mais confiança.
Contacte-nos para saber mais sobre os projetos em curso e discutir como a nossa solução pode responder às suas necessidades.

Referências

  1. Ageing and health. (2022, October 1). Retrieved February 28, 2023, from https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/ageing-and-health 
  2. Boniol M, Kunjumen T, Nair TS, et al The global health workforce stock and distribution in 2020 and 2030: a threat to equity and ‘universal’ health coverage? BMJ Global Health 2022;7:e009316. 
  3. Tercatin, R. (2022, September 15). Shortage of health workers is a 'ticking time bomb' – even in Europe. Retrieved February 28, 2023, from https://healthpolicy-watch.news/shortage-of-health-workers-is-a-ticking-time-bomb-even-in-europe/ 
  4. Reducing preventable admissions to hospital and long-term care – a high impact change model. (n.d.). Retrieved February 28, 2023, from https://www.local.gov.uk/our-support/partners-care-and-health/care-and-health-improvement/working-hospitals/reducing-preventable-admissions
  5. Shergill, Y., Rice, D., Smyth, C., Tremblay, S., Nelli, J., Small, R., Hebert, G., Singer, L., Rash, J. A., & Poulin, P. A. (2020). Characteristics of frequent users of the emergency department with chronic pain. CJEM22(3), 350–358. https://doi.org/10.1017/cem.2019.464 
  6. Using digital follow-up assessments to reduce unnecessary face-to-face appointments. (n.d.). Retrieved February 28, 2023, from https://transform.england.nhs.uk/key-tools-and-info/digital-playbooks/cancer-digital-playbook/using-digital-follow-up-assessments-to-reduce-unnecessary-face-to-face-appointments/
  7. McDermott KW (IBM Watson Health), Jiang HJ (AHRQ). Characteristics and Costs of Potentially Preventable Inpatient Stays, 2017. HCUP Statistical Brief #259. June 2020. Agency for Healthcare Research and Quality, Rockville, MD.
    www.hcup-us.ahrq.gov/reports/statbriefs/sb259-Potentially-Preventable-Hospitalizations-2017.pdf
  8. Rocha, J.V.M., Marques, A.P., Moita, B. et al. Direct and lost productivity costs associated with avoidable hospital admissions. BMC Health Serv Res 20, 210 (2020). https://doi.org/10.1186/s12913-020-5071-4 
  9. Average annual costs per patient for the top 5% of patients are over 20 times higher than all other patients. (2019, October 29). Retrieved February 28, 2023, from https://www.health.org.uk/news-and-comment/charts-and-infographics/high-cost-high-need-patients 
  10. Huber M, Knottnerus JA, Green L et al. . How should we define health? BMJ 2011;343:d4163 10.1136/bmj.d4163
  11. Richards, R., & Reed, S. (2020, January 29). How can unnecessary outpatient appointments be reduced? Retrieved February 28, 2023, from https://www.health.org.uk/news-and-comment/blogs/how-can-unnecessary-outpatient-appointments-be-reduced 
  12. Reed, S., & Crellin, N. (2022, August 04). Patient-initiated follow-up: Does it work, why it matters, and can it help the NHS recover? Retrieved February 28, 2023, from https://www.nuffieldtrust.org.uk/resource/patient-initiated-follow-up-does-it-work-why-it-matters-and-can-it-help-the-nhs-recover
  13. Ryg DN, Gram J, Haghighi M and Juhl CB (2021) ‘Effects of patient-initiated visits on patient satisfaction and clinical outcomes in a type 1 diabetes outpatient clinic: a 2-year randomized controlled study’, Diabetes Care 44(10), 2277–85. 
  14. McBain H, Shipley M, Olaleye A, Moore S and Newman S (2016) ‘A patientinitiated DMARD self-monitoring service for people with rheumatoid or psoriatic arthritis on methotrexate: a randomised controlled trial’, Annals of Rheumatic Diseases 75(7), 1343–9.
  15. Khoury LR, Moller T, Zachariae C and Skov L (2018) ‘A prospective 52-week randomized controlled trial of patient-initiated care consultations for patients with psoriasis’, British Journal of Dermatology 179(2), 301–8.
  16. Luqman I, Wickham-Joseph R, Cooper N, Boulter L, Patel N, Kumarakulasingam P and Moss EL (2020) ‘Patient-initiated follow-up for low-risk endometrial cancer: a cost-analysis evaluation’, International Journal of Gynecological Cancer 30(7), 1000–4.
  17. Poggenborg RP, Madsen OR, Dreyer L, Bukh G and Hansen A (2021) ‘Patient-controlled outpatient follow-up on demand for patients with rheumatoid arthritis: a 2-year randomized controlled trial’, Clinical Rheumatology 40(9), 3599–604.
  18. Jeppesen MM, Jensen PT, Hansen DG, Christensen RD and Mogensen O (2018) ‘Patient-initiated follow up affects fear of recurrence and healthcare use: a randomised trial in early-stage endometrial cancer’, BJOG 125(13), 1705–14.
  19. Balhorn J, Su'a B, Jin J, Peng SL, Weston M, Israel L, et al. Changing the routine: a move to patient initiated follow up to improve surgical outpatient clinic. ANZ J Surg. 2022;92(6):1394-400.
  20. Jakobsen I, Vind Thaysen H, Laurberg S, Johansen C, Juul T, Group FS. Patient-led follow-up reduces outpatient doctor visits and improves patient satisfaction. One-year analysis of secondary outcomes in the randomised trial Follow-Up after Rectal CAncer (FURCA). Acta Oncol. 2021;60(9):1130-9.
  21. Johnson RL, Choy C. Patient-initiated follow-up of early endometrial cancer: a potential to improve post-treatment cardiovascular risk? Arch Gynecol Obstet. 2022;305(2):431-7.
  22. Coleridge S and Morrison J (2020) ‘Patient-initiated follow-up after treatment for low risk endometrial cancer: a prospective audit of outcomes and cost benefits’, International Journal of Gynecologic Cancer 30(8), 1177–82.
  23. Khoury LR, Moller T, Zachariae C and Skov L (2018) ‘A prospective 52-week randomized controlled trial of patient-initiated care consultations for patients with psoriasis’, British Journal of Dermatology 179(2), 301–8.
  24. Goodwin VA, Paudyal P, Perry MG, Day N, Hawton A, Gericke C, Ukoumunne OC and Byng R (2016) ‘Implementing a patient-initiated review system for people with rheumatoid arthritis: a prospective, comparative service evaluation’, Journal of Evaluation in Clinical Practice 22(3), 439–45
  25. Lawes-Wickwar S, McBain H, Brini S, Hirani SP, Hurt CS, Flood C, et al. A patient-initiated treatment model for blepharospasm and hemifacial spasm: a randomized controlled trial. BMC Neurol. 2022;22(1):99.
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

Get the latest on UpHill resources.