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Clinical Pathways

Real-World Data: e se transformássemos dados em impacto em tempo real?

A propósito da participação da UpHill no simpósio The Impact of RWE on Clinical Pathways, exploramos como os dados de mundo real podem responder às necessidades imediatas dos doentes, dos profissionais de saúde e dos sistemas de saúde.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

November 15, 2024 · 6 min de leitura

De forma geral, todos os dados de saúde recolhidos rotineiramente — fora de ensaios clínicos controlados — são conhecidos como Dados do Mundo Real (Real-World Data, RWD).
A FDA define RWD como:

Dados relacionados com o estado de saúde do doente e/ou à prestação de cuidados de saúde, recolhidos rotineiramente a partir de diversas fontes, como registos de saúde eletrónicos (EHRs), faturação e sinistros, registos doenças, dados gerados pelos doentes em casa e dados de outras fontes, como dispositivos móveis.”1

Quando analisados, esses dados produzem Evidência do Mundo Real (Real-World Evidence, RWE):

“Evidência clínica sobre a utilização e os potenciais benefícios ou riscos de um produto médico, derivada da análise de RWD.”

Os dados do mundo real têm sido amplamente utilizados para fins de investigação, nomeadamente para acompanhar a segurança de medicamentos após o seu lançamento no mercado e monitorizar a progressão de doenças ao longo do tempo. O fenómeno ganha outras proporções com a expansão da tecnologia na área da saúde - sistemas eletrónicos, bio-sensores e dispositivos móveis - que recolhe, de forma permanente, grandes quantidades de RWD. Esta riqueza de informação tem um enorme potencial para melhorar o desenho dos estudos e responder a necessidades clínicas anteriormente não atendidas.
Mas será que a RWD poderia ter um impacto ainda maior? Haverá formas de utilizar esta informação em tempo real para melhorar os cuidados, mesmo sem esperar pela conclusão dos estudos?
A propósito da participação da UpHill no simpósio The Impact of RWE on Clinical Pathways, exploramos como os dados de mundo real podem responder às necessidades imediatas dos doentes, dos profissionais de saúde e dos sistemas de saúde.
Sejamos claros, não está em causa o amplamente documentado valor da RWD na avaliação dos benefícios de um produto médico em contextos reais. A ausência de critérios de elegibilidade rigorosos, a capacidade de monitorizar o comportamento dos doentes em cenários reais e o potencial para apoiar investigações em grupos de alto risco — como grávidas e crianças — tornam o valor da RWD inestimável, especialmente para investigações que os ensaios clínicos randomizados (RCTs) nem sempre conseguem acomodar.
No entanto, não estaremos a falar de ritmos completamente diferentes? Embora a RWD possa ser mais custo-efetivo do que um ensaio clínico para avaliar, por exemplo, a segurança de um medicamento no tratamento da insuficiência cardíaca, será que esta abordagem não fica aquém do impacto real que os mesmos dados poderiam ter na gestão de doenças em tempo real? Se utilizados de forma eficaz na prática do dia-a-dia, não poderiam os dados do mundo real ter um impacto transformador nos cuidados aos doentes?

Real World Data & Journey-Based Care

Dêmos um passo atrás para clarificar o desafio que os sistemas de saúde globais enfrentam: a procura por cuidados de saúde está a aumentar drasticamente - impulsionada pelo envelhecimento da população e pelo aumento das doenças crónicas complexas - enquanto a capacidade dos sistemas de saúde, medida pela disponibilidade de profissionais, permanece praticamente estagnada. Este fosso cada vez maior leva a problemas já bem conhecidos: longas listas de espera para consultas, atrasos nas cirurgias e serviços de urgência sobrelotados.
Neste contexto, os profissionais de saúde não precisam de volume avassalador de dados para tornar o seu trabalho ainda mais compliexo; precisam de dados precisos e relevantes para tomar decisões informadas no momento certo. Os sistemas de saúde não precisam de investir nas mais recentes tecnologias só por serem inovadoras; devem focar-se em intervenções que demonstraram ter potencial para melhorar os outcomes dos doentes. E os doentes não precisam dos dispositivos mais modernos do mercado; precisam de um sistema de saúde que tenha capacidade de resposta quando mais precisam.
A UpHill tem vindo a aperfeiçoar o conceito de Cuidados Baseados em Jornadas (Journey-Based Care), que assenta em dois pilares fundamentais:
  1. Coordenação, integração e continuidade dos cuidados – com foco na criação de um consenso clínico em torno da jornada de cuidados de cada doente, garantindo visibilidade sobre o progresso do doente e aplicando a estratificação com base no risco individual.
  2. Automação para gerir desafios de capacidade – equilibrando a procura e a capacidade resposta nos sistemas de saúde para otimizar recursos e eficiência.
Nesta perspetiva, a real-world data tem um fim em si mesma se for capaz de influenciar o curso da prestação de cuidados a um doente em particular e, simultaneamente, organizar a prestação de cuidados para em termos populacionais. Tal significa:
  • Priorizar os doentes com necessidades imediatas e urgentes.
  • Monitorizar cada doente em proximidade e agir de forma proativa, especialmente para aqueles que, de outra forma, poderiam ter dificuldades em aceder a cuidados (como doentes sem médico de família).
  • Colocar verdadeiramente os doentes no centro do processo de cuidados, reconhecendo que os dados em tempo real só existem quando os doentes participam ativamente.
Este modelo de cuidados baseado em jornadas é o único capaz de entender o progresso da doença de cada pessoa na sua imprevisibilidade e de se ajustar em conformidade.

O caminho para os melhores cuidados

Há uns anos, a propósito da resposta coletiva à pandemia COVID-19, escrevemos que o futuro - e já o presente - pertence a modelos híbridos, capazes de incorporar diferentes tipode evidência. E, de facto, cada um tem o seu lugar: a evidência científica deve guiar a prestação de cuidados, atuando como um mapa, mas a real world data deve influenciar as decisões em tempo real, tal como um GPS.
Pode parecer utópico, mas é o que a UpHill faz todos os dias. E, acreditem ou não, os utentes só precisam de um telemóvel.
Disclaimer: este artigo foi escrito com base nas apresentações de Clara Jasmins e Eduardo Freire Rodrigues no simpósio The Impact of RWE on Clinical Pathways.

Referências

  1. US Food & Drug Administration. Real world evidence. 2022. https://www.fda.gov/science-research/science-and-research-special-topics/real-world-evidence. Accessed 14 November 2024.
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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