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Clinical Pathways

Reforçar o papel da enfermagem através de jornadas de cuidados

Os enfermeiros desempenham um papel crucial nos sistemas de saúde enquanto guardiões da segurança dos doentes e dos cuidados centrados na pessoa. Neste artigo exploramos a razão pela qual a enfermagem é essencial para redesenhar a prestação de cuidados com jornadas de doentes e como a sua implementação reforça o papel destes profissionais nas instituições de saúde e a relação paciente-enfermeiro.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

April 13, 2023 · 8 min de leitura

An Elderly Man Talking to the Man in White Shirt while Holding Hands
Os enfermeiros desempenham um papel crítico nos sistemas de saúde e são essenciais para prestar cuidados seguros, de qualidade e centrados no doente. Estão frequentemente na linha da frente, prestando cuidados abrangentes e holísticos, acompanhando o doente ao longo do ciclo de vida - desde os recém-nascidos até aos idosos. Adicionalmente, têm uma posição distinta no seio das instituições de saúde - devido ao vasto âmbito do seu trabalho - combinando o conhecimento detalhado dos fluxos de doentes entre diferentes ambientes e departamentos, com um papel mobilizador quando se trata de construir planos de cuidados multi-profissionais e multidisciplinares. 
Responsáveis diretos pela prestação de cuidados, as equipas de enfermagem colaboram com outros profissionais de saúde para otimizar os resultados dos doentes. Atuam como seus defensores, assegurando a satisfação das suas necessidades físicas, emocionais e psicossociais, e desempenham também um papel fundamental na promoção e educação para a saúde e prevenção da doença. 
Em suma, a abrangência da sua experiência torna-os fundamentais para a saúde e bem-estar geral dos pacientes e das famílias. 

A evolução da enfermagem no contexto de cuidados de saúde em mudança 

Os desafios e oportunidades que caracterizam os sistemas de saúde atuais têm naturalmente efeitos naqueles que são os papéis tradicionais das equipas de enfermagem. As principais oportunidades incluem: 
  • Maior ênfase na tecnologia 
A última década assistiu a um progresso sem precedentes no que diz respeito à utilização de tecnologia nesta área. Soluções como os registos de saúde eletrónicos, telesaúde, telemedicina, telemonitorização, entre outras dimensões da saúde digital já fazem parte do dia-a-dia, melhorando os cuidados, simplificando os fluxos de trabalho, e fortalecendo a comunicação com os doentes e com outros profissionais das equipas de saúde.1-3
  • Expansão do âmbito de prática 
Assistimos também à expansão das responsabilidades dos enfermeiros. Tal cenário inclui práticas avançadas desempenhadas por nurse practitioners, clinical nurse specialists e enfermeiros anestesistas, que podem gerir condições de saúde de forma independente.4   
  • Maior ênfase na prática baseada na evidência  
A prática baseada na evidência (EBP) tem vindo a ganhar força também na enfermagem, conduzindo à utilização crescente da melhor evidência disponível, aliada aos conhecimentos clínicos e os valores do doente, para orientar as decisões e prestação de cuidados.5 
  • Maior ênfase na colaboração interdisciplinar 
Com o reconhecimento crescente da importância da colaboração para prestar cuidados seguros, eficientes e centrados no doente, a cooperação interdisciplinar, a comunicação e coordenação entre enfermeiros, médicos, farmacêuticos, nutricionistas, e outros profissionais de saúde, assumem cada vez mais relevância.6-8  
Simultaneamente, os desafios dos sistemas de saúde atuais estão à vista de todos: viver mais tempo é uma realidade, mas viver melhor é um desafio, as gerações mais jovens dão cada vez mais prioridade à saúde e ao bem-estar e há também uma expectativa crescente de conveniência e acessibilidade (incluindo para terapias e soluções tecnológicas inovadoras), aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde globais. 
Por outro lado, a escassez de profissionais de saúde foi agravada pela pandemia COVID-19: segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2030 faltarão mais de 10 milhões de profissionais em todo o mundo,9 cerca de metade dos quais serão enfermeiros.10 
Como tal, os sistemas de saúde precisam de se adaptar para responder à procura que cresce exponencialmente, e, no que diz respeito à enfermagem, existem, na prática atual, oportunidades para a melhorar os processos, dotar os enfermeiros de maior autonomia, eficiência e eficácia. Como? Redesenhando a prestação de cuidados através de jornadas de cuidados digitais, com foco na segurança dos pacientes e na educação para os autocuidados e autogestão.  
Porquê? Foram precisamente os tópicos abordados neste webinar.  

Desenho e implementação de jornadas de cuidados: o papel dos enfermeiros em todo o processo 

O papel dos enfermeiros envolve a coordenação e gestão dos cuidados ao longo da jornada de cuidados, da admissão à alta, follow-up e transição entre níveis de cuidados. 
Na UpHill, definimos o processo de conceção, adequação, implementação e avaliação de jornadas de cuidados em quatro fases e, tal como descrito abaixo, a enfermagem desempenha um papel crítico em cada uma delas: 

1. Mapeamento e design de jornadas de cuidados | A enfermagem como guardiã da navegação dos doentes

Dado o profundo conhecimento sobre a jornada do doente em vários contextos - internamento, serviço de urgência, bloco operatório, hospital de dia, hospitalização domiciliária, etc. - e a visão detalhada sobre a estrutura da instituição, as equipas de enfermagem têm um papel fundamental no apoio à construção de clinical pathways. São, por isso, fundamentais para desenvolver planos de cuidados holísticos, baseados na evidência e nos valores e expectativas dos doentes, identifcando as decisões a serem tomadas e os responsáveis pelas mesmas, colaborando com outras equipas para estabelecer objetivos e intervenções apropriadas para cada fase da jornada.  

2. Implementação da jornada de cuidados | A enfermagem enquanto gestora da mudança nas instituições de saúde 

Esta etapa é crucial para adequar as melhores práticas ao contexto único de cada instituição. Os enfermeiros são fundamentais na interseção com outros profissionais de saúde, gestores hospitalares, departamento de IT etc, bem como na antecipação das necessidades e valores dos doentes, tendo em conta o contexto socioeconómico mais vasto em que a instituição se insere. Asseguram que todos os membros da equipa de cuidados de saúde trabalham em conjunto, facilitando uma comunicação eficaz, e coordenando serviços e recursos, conforme necessário. Mais uma vez, o conhecimento dos enfermeiros sobre o funcionamento da instituição é relevante para assegurar que toda a jornada está ajustada à realidade e para mobilizar todas as pessoas (incluindo pacientes, famílias, e prestadores de cuidados) para o projeto. 

3. Prestação de cuidados | Os enfermeiros como gestores de caso 

Os enfermeiros prestam cuidados diretos, implementando o plano de cuidados, administrando medicamentos, monitorizando o estado dos doentes, participando no processo de referenciação e avaliando a eficácia das intervenções. Também educam pacientes e famílias sobre a jornada de cuidados, capacitando-os para os autocuidados, gestão de sintomas e compreensão dos objetivos terapêuticos.  
Com uma jornada de cuidados digital, as equipas de enfermagem têm visibilidade sobre o progresso do doente, identificando com precisão e autonomia os momentos em que as decisões precisam de ser antecipadas, a terapêutica que precisa de ser ajustada, ou o paciente precisa de ser redirecionado para outro nível de cuidados. A colaboração interprofissional é reforçada pelo facto de todas as equipas terem acesso à mesma informação, bem como a comunicação com o doente, em virtude dos mecanismos de comunicação assíncrona e follow-up regular implementados. 
Finalmente, tais ferramentas permitem aos enfermeiros melhorar a priorização dos doentes, com base em critérios clínicos - contrariamente à abordagem FIFO (first-in first-out) -, decidindo quais os doentes que devem ser vistos e quais devem ser vistos primeiro, aumentando a eficiência alocativa das instituições. 

4. Monitorização e avaliação | Enfermeiros como promotores de melhoria da qualidade 

 Os enfermeiros são responsáveis pela documentação exata e atempada dos cuidados prestados aos doentes, incluindo avaliações, intervenções e resultados. Participam em iniciativas de melhoria da qualidade para avaliar e melhorar continuamente a prestação de cuidados. Através das jornadas de cuidados, as equipas de enfermagem acedem a dados analíticos que lhes permitem avaliar o cumprimento das melhores práticas, identificar os pontos mais críticos, com especial ênfase nos dados de segurança dos doente. Tais dados podem ser utilizados para fins de investigação e para informar melhores políticas de saúde, a fim de melhorar os resultados do paciente e da saúde. 
Se tem interesse em aprofundar estes temas, descarregue o nosso ebook sobre conceitos, métodos e desafios em torno da implementação de jornadas de cuidados e assista ao webinar em que foram partilhados, na primeira pessoa, experiências sobre projetos já implementados. 

Referências

  1. Bailey , S. (2023, March 22). How technology has changed the role of Nursing. Nurse Journal. Retrieved April 13, 2023, from https://nursejournal.org/articles/technology-changing-nursing-roles/
  2. Whende, M. C. (2021, April 29). 2020: Emerging Technology in global nursing care. HIMSS. Retrieved April 13, 2023, from https://www.himss.org/resources/2020-emerging-technology-global-nursing-care 
  3. BMJ 2021;373:n1190
  4. Judith A. Oulton, Patricia Caldwell, in International Encyclopedia of Public Health (Second Edition), 2017
  5.  Stevens, K., (May 31, 2013) "The Impact of Evidence-Based Practice in Nursing and the Next Big Ideas" OJIN: The Online Journal of Issues in Nursing Vol. 18, No. 2, Manuscript 4.
  6. Evert Schot, Lars Tummers & Mirko Noordegraaf (2020) Working on working together. A systematic review on how healthcare professionals contribute to interprofessional collaboration, Journal of Interprofessional Care, 34:3, 332-342, DOI: 10.1080/13561820.2019.1636007
  7. Dahlke, S., Hunter, K. F., Reshef Kalogirou, M., Negrin, K., Fox, M., & Wagg, A. (2020). Perspectives about Interprofessional Collaboration and Patient-Centred Care. Canadian journal on aging = La revue canadienne du vieillissement39(3), 443–455. https://doi.org/10.1017/S0714980819000539
  8. Fox, A., & Reeves, S. (2015). Interprofessional collaborative patient-centred care: a critical exploration of two related discourses. Journal of interprofessional care29(2), 113–118. https://doi.org/10.3109/13561820.2014.954284
  9. World Health Organization. (n.d.). Health workforce. World Health Organization. Retrieved April 13, 2023, from https://www.who.int/health-topics/health-workforce 
  10. World Health Organization. (n.d.). Nursing and midwifery. World Health Organization. Retrieved April 13, 2023, from https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/nursing-and-midwifery 
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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