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Care Integration

Orquestração de cuidados nos cuidados de saúde primários: como e porquê?

Reconhecendo a necessidade de prestar cuidados mais integrados e centrados no paciente, a saúde viu emergir o conceito de orquestração de cuidados, que engloba várias estratégias para promover melhorias na qualidade dos cuidados, na experiência dos doentes e nos outcomes. Nesta publicação, detalhamos em pormenor as vantagens que este conceito aporta para responder aos desafios que caracterizam os cuidados de saúde primários.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

June 2, 2023 · 8 min de leitura

A fragmentação dos cuidados, bem como a coordenação limitada entre prestadores e contextos, conduz a erros médicos,1 hospitalizações evitáveis,2 maior afluência aos serviços de urgência, perdas de receitas devido a cancelamentos ou adiamentos de cirurgias, etc. No entanto, reconhecendo a necessidade de prestar cuidados mais integrados e centrados no paciente, a saúde viu emergir estratégias de orquestração de cuidados, que se referem à coordenação e sincronização das atividades de prestação de cuidados entre vários prestadores, contextos e períodos de tempo para otimizar os resultados para os doentes.  
Ao longo do tempo, os avanços tecnológicos, como o desenvolvimento de registos clínicos eletrónicos aliados a funcionalidades de interoperabilidade, têm desempenhado um papel crucial na partilha de informações e na comunicação entre as equipas de saúde, mas a orquestração de cuidados não é, ainda, uma realidade. Por outro lado, os médicos dos cuidados de saúde primários, a quem é exigida a missão de coordenar os serviços prestados por outros especialistas, hospitais e unidades de cuidados ao domicílio, reportam várias falhas quando se trata de acompanhar a evolução dos doentes.3
Pode a orquestração dos cuidados ser a luz ao fundo do túnel para estes profissionais?

Back to basics: os desafios de um médico de família

  • Falta de tempo: os médicos dos cuidados de saúde primários têm um grande número de doentes para ver e tempo limitado para cada consulta. Tal contraste dificulta a abordagem adequada de todas as preocupações do doente e apressa as consultas. Assim, além de ambientes de trabalho extremamente stressantes,4 alguns estudos relacionam as restrições de tempo à baixa compliance com guidelines e a consequências relacionadas com a segurança dos doentes.5 
  • Aumento do volume de doentes: a procura por cuidados de saúde primários está a aumentar, mas o número de médicos disponíveis não acompanha o mesmo ritmo.  Embora o número total de médicos per capita tenha aumentado em quase todos os países, entre 2008 e 2018, a percentagem de médicos de família diminuiu na maioria dos países.6 Esta disparidade resulta em taxas elevadas de utentes sem médico de família e num maior volume de doentes alocado a cada médico, contribuindo para a exaustão destes profissionais.
  • Complexidade crescente: os cuidados de saúde primários são, frequentemente, o primeiro ponto de contacto para uma enorme diversidade de problemas de saúde, exigindo aos médicos de família a capacidade de gerir situações agudas e crónicas em doentes cada vez mais complexos: um em cada três adultos sofre de múltiplas doenças crónicas.7
  • Carga burocrática e administrativa: o tempo gasto em tarefas administrativas ronda 20 horas semanais8 e é apontado pelo profissionais de saúde como a principal causa de esgotamento e burnout.9
  • Prevenção e educação: os cuidados de saúde primários desempenham um papel crucial na prevenção da doença e educação para a saúde. Incentivar escolhas de estilo de vida saudáveis, abordar os fatores de risco e promover a prevenção de doenças exige uma comunicação eficaz e um investimento de tempo, um desafio dentro das limitações supramencionadas.
Assegurar transições de cuidados entre diferentes contextos, coordenar a prestação de cuidados entre especialistas e manter uma comunicação eficaz, além da exigência do dia-a-dia previamente descrito é um desafio. E é por isso que a orquestração dos cuidados deve entrar em ação.

Jornadas de cuidados inteligentes, automatizadas e baseados em evidência: a receita para aumentar a autonomia e capacidade dos cuidados de saúde primários 

A UpHill é um software de clinical pathways que se integra nos sistemas de informação existentes nas unidades de saúde para automatizar tarefas e colmatar as falhas na prestação de cuidados. Com a UpHill a orquestrar os cuidados, os prestadores têm uma visão abrangente do estado dos seus pacientes ao longo da jornada - como indivíduos e como população -, incluindo o historial passado e os próximos passos esperados. 
Para os cuidados de saúde primários, tal competência é sinónimo de autonomia, capacidade, visibilidade/rastreabilidade, priorização e proximidade.

Um sistema de suporte à decisão clínica para aumentar a autonomia dos cuidados de saúde primários

Um sistema de suporte à decisão é vital para aumentar a autonomia dos cuidados de saúde primários, no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento, ao mesmo tempo que melhora as competências dos médicos generalistas e sustenta cuidados auto-suficientes. Com base em clinical pathways baseados em evidência, estes sistemas fornecem um apoio abrangente e em tempo real à tomada de decisões clínicas para o estabelecimento de diagnósticos precisos, e definição de planos de tratamento adequados. Adicionalmente, quando capacitados com ferramentas de comunicação, facilitam também a monitorização do doente. Em última análise, os sistemas de suporte à decisão revolucionam os cuidados de saúde primários, permitindo que os médicos prestem cuidados eficientes, precisos e centrados no doente de forma independente. 
Must-have:
  • Clinical pathways fundamentados em evidência e ajustados à realidade local. 
  • Interação intuitiva e passo-a-passo. 
  • Armazenamento de dados dos doentes no sistema de suporte à decisão.

Referenciação estruturada e visibilidade sobre o progresso do doente para melhorar a colaboração entre equipas

A existência de critérios de referenciação claros, além de uma jornada de cuidados pré-definida, garante que os doentes são encaminhados para os especialistas ou níveis de cuidados mais adequados, minimizando as referenciações injustificadas e melhorando a eficiência do sistema de saúde. Adicionalmente, as capacidades de interoperabilidade aumentam a precisão do processo, garantindo que toda a informação necessária - história clínica, sintomas, resultados de exames - é transferida. Por último, este processo funciona de forma bilateral, garantindo, aos médicos de família, visibilidade sobre o progresso do doente em tempo real. 
Must-have:
  • Jornadas de cuidados predefinidas que orientam e normalizam a prestação de cuidados. 
  • Critérios de referenciação claros. 
  • Uma única fonte de informação sobre as necessidades e o história do doente.

Automação de tarefas para aumentar a capacidade dos cuidados de saúde primários. 

Ao automatizar tarefas rotineiras e repetitivas, os prestadores de cuidados de saúde primários podem otimizar o seu fluxo de trabalho e concentrar-se na prestação de cuidados efetiva. Tarefas administrativas como a marcação de consultas, monitorização dos doentes ou documentação podem ser automatizadas, libertando tempo valioso para os médicos se concentrarem nas interações diretas com os doentes. Em causa está a capacidade de aumentar a eficiência e permitir que os médicos atendam mais doentes no mesmo período de tempo, expandindo efectivamente a capacidade das unidades. Além disso, a automação facilita a gestão de doenças crónicas, por exemplo, automatizando os reminders de medicação, a marcação de consultas de follow-up e a monitorização do progresso do doente.  
Must-have:
  • Jornadas de cuidados predefinidas que identificam claramente as ações que podem ser automatizadas. 
  • Capacidades de interoperabilidade que liguem diferentes sistemas e reduzam a repetição de tarefas. 
  • Visibilidade e atribuição de significado às acções automatizadas em tempo real.

Monitorização em tempo real para definir prioridades.  

Como já foi referido em artigos anteriores, a priorização é a solução para quando a procura é elevada e os recursos limitados. Tirando partido da tecnologia avançada e dos dados em tempo real, os cuidados de saúde primários podem monitorizar o estado de saúde dos doentes, acompanhar os principais indicadores e identificar os indivíduos que necessitam de cuidados imediatos ou intervenções urgentes. Esta abordagem proativa favorece intervenções atempadas e evita potenciais complicações, alertando os médicos para alterações críticas no estado do doente e permitindo-lhes estabelecer prioridades e alocar recursos em conformidade.  
Must-have:
  • Seguimentos automáticos através de uma abordagem omnicanal. 
  • Estratificação automática dos doentes através de scores validados. 
  • Geração automática de alertas e ajuste do percurso de cuidados com base nas respostas dos utentes.
Para saber mais sobre como a UpHill está a ajudar as unidades de cuidados de saúde primários a responder à procura crescente, conciliando a monitorização remota, a priorização e cuidados de proximidade, assista ao nosso webinar.

Referências

  1. Monegain, B. (2010, October 22). Joint Commission confronts deadly miscommunications. Healthcare IT News. https://www.healthcareitnews.com/news/joint-commission-confronts-deadly-miscommunications
  2. Kern, L., & Seirup, J. (2018, September). Fragmented ambulatory care and subsequent healthcare utilization among Medicare beneficiaries. AJMC. https://www.ajmc.com/view/fragmented-ambulatory-care-and-subsequent-healthcare-utilization-among-medicare-beneficiaries 
  3. Doty, M., Tikkanen, R., Shah, A., & Schneider, E. (2019, December 10). Primary care physicians’ role in coordinating medical and health ... Health Affairs. https://www.healthaffairs.org/doi/10.1377/hlthaff.2019.01088
  4. von dem Knesebeck, O., Koens, S., Marx, G. et al. Perceptions of time constraints among primary care physicians in Germany. BMC Fam Pract 20, 142 (2019). https://doi.org/10.1186/s12875-019-1033-5
  5. Tsiga E, Panagopoulou E, Sevdalis N, et al The influence of time pressure on adherence to guidelines in primary care: an experimental study. BMJ Open 2013;3:e002700. doi: 10.1136/bmjopen-2013-002700
  6. OECD/European Union (2020), Health at a Glance: Europe 2020: State of Health in the EU Cycle, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/82129230-en.
  7. Hajat, C., & Stein, E. (2018). The global burden of multiple chronic conditions: A narrative review. Preventive medicine reports, 12, 284–293. https://doi.org/10.1016/j.pmedr.2018.10.008
  8. Henry, T. A. (2018, November 13). Do you spend more time on administrative tasks than your peers?. American Medical Association. https://www.ama-assn.org/practice-management/sustainability/do-you-spend-more-time-administrative-tasks-your-peers 
  9. What is physician burnout?. American Medical Association. (2023, February 16). https://www.ama-assn.org/practice-management/physician-health/what-physician-burnout 
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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