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Care Integration

ULSs: quatro desafios para ultrapassar em 2024

A 1 de janeiro foram formalmente constituídas as 33 novas Unidades Locais de Saúde do SNS. O que precisa de saber para uma verdadeira integração de cuidados? Neste artigo exploramos 4 desafios que persistem e apontamos as soluções para uma transição bem-sucedida.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

January 12, 2024 · 7 min read

O ano que passou ficou marcado pelo anúncio da nova vaga de Unidades Locais de Saúde (ULS) pela Direção Executiva do SNS. Uma medida que expressa a aposta num modelo de prestação de cuidados integrados, onde os centros hospitalares, hospitais e os agrupamentos de centros de saúde, de uma área geográfica, funcionam em rede. A 1 de janeiro estas unidades foram formalmente constituídas, passando a contabilizar-se 39 ULSs, de norte a sul do país. De fora ficam apenas os três institutos de oncologia (IPO de Lisboa, Porto e Coimbra) e o Hospital de Cascais, o único gerido em parceria público-privada.
Melhorar o acesso e diminuir a burocracia, facilitar o percurso dos utentes no SNS, melhorar a eficiência e potenciar economias de escala, evitando redundâncias e repetições de atos clínicos, são apontados como as principais vantagens. No entanto, será a formalização das ULSs, a par das reformulações que este modelo envolve em termos de financiamento e gestão das unidades de saúde, condição suficiente para garantir tais benefícios?
Neste artigo exploramos quatro desafios que persistem e apontamos as soluções para uma transição bem-sucedida.

1. Implementar Percursos Assistenciais Integrados para garantir integração clínica

A integração, aplicada aos cuidados de saúde, pode assumir diferentes níveis, desde a elaboração de políticas centradas na coordenação de estruturas e sistemas entre organizações, passando pelas funções não-clínicas de suporte e back-office, no sentido de partilhar dados e sistemas de informação entre as organizações, e pela coordenação de diferentes serviços, através de equipas multidisciplinares e estruturas únicas de referenciação, até à integração clínica.
Tal como o nome indica, a integração clínica diz respeito à prestação de cuidados através de um processo único e coerente, quer entre diferentes profissionais, quer entre diferentes níveis de cuidados. Neste nível inclui-se o desenvolvimento de guidelines partilhadas, protocolos ou jornadas de cuidados, comumente designados Percursos Assistenciais Integrados (PAIs).

Solução:

  • Mapeamento de jornadas de cuidados transversais, multidisciplinares e multi-nível:
Os Percursos Assistenciais de Cuidados funcionam como documentos que coordenam a organização dos cuidados, tendo em conta a perspetiva clínica – isto é, a prestação dos melhores cuidados, de forma atempada, pelas equipas mais bem posicionadas para o fazer – e a perspetiva de gestão – ou seja, garantindo eficiência na utilização dos recursos.

Assim, a definição de uma percurso assistencial ultrapassa a designação de processos clínicos, que dizem respeito à conceptualização daquilo que deve ser feito. Por sua vez, o PAI corresponde à transposição das boas práticas, tendo em conta a realidade local, e devem incluir, de forma clara, a definição do papel de cada profissional interveniente na jornada, em cada nível de cuidados que constitui a ULS, bem como os mecanismos de avaliação.
  • Digitalização das jornadas de cuidados:
Através da digitalização e da introdução dos dados de saúde do doente, cada percurso assistencial transforma-se numa jornada personalizada que é permanentemente atualizada de acordo com a evolução clínica de cada pessoa.

Além disto, a digitalização está associada a um conjunto de benefícios, entre os quais a visualização global e sequencial da jornada de cada doente, a identificação de bloqueios e constrangimentos e a sua otimização através de funcionalidades de suporte à decisão, comunicação e automação que serão detalhadas mais adiante.

2. Assegurar o acesso a informação atualizada em tempo real

A prestação de cuidados de saúde, num contexto marcado pelo aumento das doenças crónicas e multimorbilidade, é particularmente desafiante. Esta complexidade resulta da necessidade de equipas multidisciplinares, onde profissionais de diferentes especialidades, equipas, serviços e instituições colaboram, enquanto lidam com uma variedade de sistemas de informação.
A diversidade de plataformas e softwares utilizados adiciona dificuldades na troca e interpretação de dados, originando silos de informação que persistem e dificultam a fluidez dos cuidados, as decisões atempadas e informadas, enquanto perpetuam o desperdício associado à duplicação de atos.

Solução:

  • Atualização do estado do doente em tempo real:
A digitalização da jornada de cuidados e a sua atualização automática, de acordo com a informação recebida de diferentes sistemas de informação, proporciona o acompanhamento do progresso do doente em tempo real, partilhado com equipas de diferentes níveis de cuidados.
Assim, independentemente do contexto em que se encontram, os profissionais de saúde são guiados por uma única fonte de verdade, permanentemente atualizada, no que diz respeito às necessidades e história clínica de cada utente.
  • Utilização de standards de interoperabilidade:
A interoperabilidade é essencial para garantir que as equipas de saúde têm acesso às informações mais atualizadas sobre os doentes, sem duplicação de tarefas - aspeto fundamental para a prestação de cuidados de saúde de qualidade.
Neste âmbito, a capacidade de agregar e analisar dados de diferentes fontes, trocando-os de forma adequada, através de catálogos padronizados, como LOINC, SNOMED-CT e ICD-10 - (interoperabilidade semântica); a capacidade de garantir os aspetos técnicos subjacentes a esta troca, como o transporte, o formato e a validação (interoperabilidade técnica); e a capacidade de interpretar os dados trocados, compreendendo a sua estrutura, utilizando um formato normalizado, como XML ou HL7FHIR (interoperabilidade sintática) são características fundamentais a procurar num software de orquestração de jornadas de cuidados.

3. Alocar os recursos certos a cada utente

Em saúde, a eficiência alocativa diz respeito à capacidade de aumentar os benefícios globais produzidos pelo sistema de saúde através da realocação de recursos.
No contexto atual - em que as ULSs têm de acompanhar o aumento exponencial da procura, mantendo os mesmos recursos - a eficiência alocativa está intimamente relacionada com a estratificação e priorização dos doentes, decidindo quais devem ser atendidos, quando e em que contextos.
Tal afirmação, não significa deixar utentes sem vigilância ou em autogestão, mas sim ajustar os níveis de resposta a cada pessoa, de acordo com o seu risco.

Solução:

  • Definição de critérios de referenciação claros:
A existência de critérios de referenciação claros, além de uma jornada de cuidados pré-definida, garante que os doentes são encaminhados para os especialistas ou níveis de cuidados mais adequados, minimizando as referenciações injustificadas e melhorando a eficiência do sistema de saúde.
Se a jornada de cuidados é o mapa que define as etapas pelas quais a pessoa deve passar e o que acontece em cada uma delas, os critérios de referenciação funcionam como as regras de trânsito que ditam quando deve (ou não) o doente avançar ou recuar para a etapa ou nível de cuidados seguinte.
  • Implementação de um sistema de suporte à decisão:
Um sistema de suporte à decisão é particularmente relevante para aumentar a autonomia e resolutividade dos cuidados de saúde primários. Com base em clinical pathways baseados na melhor evidência, estes sistemas fornecem um apoio à tomada de decisões clínicas abrangente e em tempo real, que facilita o estabelecimento de diagnósticos precisos e a definição de planos de tratamento adequados.
Por outro lado, são a garantia de que a jornada de cuidados previamente definida é efetivamente implementada e, consequentemente, que os critérios de referenciação são cumpridos.

4. Manter os doentes no radar

Conectividade, rede, tracking são apenas três exemplos de palavras que invadiram o discurso comum e têm que invadir também a forma como os cuidados de saúde são pensados. Neste caso, referimos, particularmente, a necessidade de encarar as jornadas de cuidados como processos contínuos e evolutivos, que acompanham os utentes além dos momentos episódicos de prestação de cuidados.
Assim, a capacidade de acompanhar os doentes, rastrear a sua evolução, identificar potenciais sinais de alarme e antecipar cuidados são fundamentais para resolver, por exemplo, a sobrelotação das urgências hospitalares ou a rehospitalização de doentes após a alta.

Solução:

  • Implementação de follow-ups automáticos com geração de alertas:
O primeiro passo para melhorar a continuidade dos cuidados é a monitorização contínua ou periódica do progresso do doente, através da implementação de seguimentos automáticos capazes de identificar automaticamente sinais de alarme que denunciem, atempada e convenientemente, a deterioração do seu estado de saúde.
Assim, sem adicionar volume de trabalho aos profissionais de saúde, as instituições têm total visibilidade sobre os doentes que apresentam sinais de alarme e necessitam de cuidados especializados e, simultaneamente, a garantia de que os restantes estão efetivamente bem.
  • Estratificação do risco e atualização da jornada em conformidade
A segunda vertente, consiste em dar um significado acionável aos dados recolhidos. Com base nas respostas dos doentes, os doentes devem ser estratificados de acordo com o seu risco, atualizado o seu status na jornada e sugeridas as próximas ações (ou mesmo automatizadas quando aplicável).
Garantidas todas as premissas referidas anteriormente, esta abordagem garante que cada etapa da jornada de cuidados é ajustada de forma, rápida, flexível e automática de acordo com o progresso e as necessidades do doente em cada momento.
Para mais informações sobre como estas soluções se integram no software de orquestração de cuidados da UpHill, contacte a nossa equipa. Veja também o projeto em desenvolvimento na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano.
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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