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Acute Care

SNS SUmmit: do consenso à prática

Num dia dedicado à discussão de boas práticas entre Serviços de Urgência, literacia, referenciação, resolutividade, colaboração e integração foram as palavras-chave mais consensuais entre público e palestrantes. Como é que isto se faz? É o que exploramos neste artigo.

Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

March 24, 2023 · 8 min lectura

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fotografia: ©Expanding Roots
A Direção Executiva do SNS realizou ontem o primeiro SNS SUmmit, um fórum de partilha e discussão de boas práticas entre os Serviços de Urgência das diferentes unidades do SNS, os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) e as instituições que coordenam o fluxo dos utentes. 
O diagnóstico era sobejamente conhecido mesmo antes do início da sessão: Serviços de Urgência sem capacidade de dar resposta à procura crescente e doentes, nem sempre emergentes, sem respostas alternativas. As novidades não demoraram a ser anunciadas e, ainda na sessão de abertura, Fernando Araújo revelou que a Direção Executiva do SNS (DE-SNS) vai avaliar o modelo de referenciação para as urgências, nomeadamente as pulseiras verdes e azuis, que deveriam encontrar outras respostas fora do contexto hospitalar.  
“Fora de cena quem não é de cena” reiterou José Barros, diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA), referindo-se às situações não emergentes que entopem as urgências hospitalares e, no mesmo sentido, João Gouveia, diretor do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte (CHULN), defendeu que este serviço só funciona “se tudo à volta funcionar”. Um dos caminhos passa por reforçar a utilização da linha SNS24 e esbater a perceção de que é um canal exclusivamente dedicado ao COVID-19. “Esta tem que ser porta de entrada da situação aguda não emergente no sistema de saúde”, assegurou João Oliveira, coordenador SPMS SNS24. 
No final do dia, consenso em torno da ideia de que a melhoria continua do funcionamento dos Serviços de Urgência do SNS não depende apenas do contexto da urgência, de que é preciso aumentar o acesso e resolutividade dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) estabelecer critérios de referenciação entre instituições e encontrar respostas integradas.  Já a estratificação dos doentes ficou nas entrelinhas. 
Para memória futura escreveram-se 16 recomendações, de entre as quais destacamos as seguintes: 

1. Investimento em campanhas nacionais de promoção de literacia e informação da população com vista ao uso mais racional dos SU 

A mensagem foi repetidamente veiculada: os utentes precisam de saber onde e quando se devem dirigir a um serviço de saúde em particular. Mais do que “ouvir na rádio ou ver na televisão”, a informação tem que estar sempre visível e disponível, esclareceu João Ferreira do ACES da Lezíria. E, finalmente, as recomendações devem ser “consequentes com o acesso”, acrescentou Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão da Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ). 

Solucionar com a UpHill:

  • Criação de portais de doentes com informação simplificada e ajustada ao seu nível de literacia sobre a doença e o plano de cuidados, disponível on-demand; 
  • Implementação de ferramentas digitais e intuitivas que suportem a identificação de sintomas e a autogestão, através de recomendações claras sobre como agir em cada situação; 
  • Criação de canais de comunicação diretos com as equipas de saúde para sinalização de agravamento de sintomas e ativação automática dos mecanismos de follow-up mais adequados;  
  • Capacitação do doente para seguir a sua jornada de cuidados em tempo real, recebendo, a cada momento, indicações concretas sobre como proceder. 

2. Aumentar a resposta ao doente agudo em contexto extra-hospitalar 

“É preciso aumentar o acesso e resolutividade dos Cuidados de Saúde Primários”, disse, prontamente, António Marques, que lidera a Comissão para as Urgências Metropolitanas de Lisboa e Porto. E não foi o único: o presidente do Conselho Diretivo do INEM defendeu que ambas as condições são necessárias para recuperar a confiança nos CSP e o médico João Ferreira acrescentou que a solução passa por “desburocratizar a saúde”, lembrando que entre 10 e 30% das consultas abertas neste contexto não são dedicadas à doença, mas a temas como atestados ou cartas de condução urgentes. 

Solucionar com a UpHill: 

  • Definição de jornadas de cuidados capazes de ajustar as melhores práticas, preconizadas pela evidência científica, e os recursos disponíveis; 
  • Apoio à decisão no diagnóstico e tratamento nos Cuidados de Saúde Primários para autonomizar os médicos generalistas e fornecer cuidados autossuficientes; 
  • Automatização de follow-ups de doentes crónicos e identificação automática de sinais de alerta para detetar conveniente e antecipadamente a deterioração do estado de saúde. 

3. Reforçar o alinhamento de respostas locais entre CSH e CSP através do alargamento do modelo ULS  

Precisamos de interoperabilidade entre sistemas de informação, protocolos - “a ciência é única, a abordagem à doença deve ser integrada” - e recursos humanos. A convicção foi lançada por António Marques e ilustrada por João Ferreira: “Não é fácil orientar para os Cuidados de Saúde Primários quando, muitas vezes, a resposta é contrária àquela que foi dada pelo SNS24 ou no hospital”. 
Trata-se, portanto, de integrar cuidados e coordenar respostas entre diferentes níveis assistenciais. Como? Temos algumas reflexões
Sabemos que as Unidades Locais de Saúde (ULS) são uma aposta da Direção Executiva dos SNS – foi recentemente anunciada a criação de novas unidades – mas será mesmo condição necessária e suficiente para a integração de cuidados? Falámos com Adelaide Belo, a presidente da PACIF (Portuguese Association for Integrated Care) a propósito da digitalização do Percurso Assistencial de Cuidados dos doentes com Insuficiência Cardíaca. Pode ver ou rever o webinar.

Solucionar com a UpHill: 

  • Definição de jornadas de cuidados multidisciplinares e multinível que definem inequivocamente quem, quando e onde é realizada cada ação; 
  • Definição de critérios de referenciação bilaterais que garantem que o doente é assistido no nível correto de cuidados; 
  • Estratificação automática do doente através de questionários e scores validados que encaminham o doente para o nível de cuidados correto, de acordo com o risco; 
  • Acompanhamento e visibilidade partilhada do progresso do doente e da sua localização na jornada de cuidados, garantida através da interoperabilidade entre vários sistemas de informação. 

4. Estabelecimento de equipas dedicadas no Serviço de Urgência  

“O Serviço de Urgência é um local de risco físico e técnico”, afirmou Nelson Pereira. E prosseguiu: “não há nenhum outro serviço onde se façam mais diagnósticos por unidade de tempo e, portanto, a probabilidade de erro é maior.” 
A urgência é, inerentemente à sua natureza, um ambiente tenso, agitado e em constante mudança. As respostas têm que ser rápidas, a diversidade e complexidade dos doentes é muito variável e a experiência dos profissionais também. Todos os perfis se adequam? Foi uma das perguntas que ficou no ar.  

Solucionar com a UpHill: 

  • Uniformização das melhores práticas através da implementação de sistema de suporte à decisão clinicamente detalhado para diagnóstico, referenciação, internamento e alta hospitalar; 
  • Automatização de tarefas repetitivas e pouco diferenciadoras do ponto de vista clínico relacionadas com a recolha de informação. 
Uma nota final para a criação da especialidade de Medicina de Urgência reiteradamente defendida pelos palestrantes e audiência. 

5. Definição de um modelo transversal de gestão de admissões/camas/altas em cada instituição hospitalar  

Num dia marcado pela convergência, este terá sido o painel com maior discordância. Deve ou não haver uma gestão integrada de camas, qual o seu impacto no funcionamento dos serviços, que equipa deve ser responsável por esta gestão e com que autonomia foram alguns dos temas no centro da discussão.  
Feitas as contas, duas conclusões principais: “haver alguém que tem uma visão global do hospital inteiro facilita a articulação” - constatou o enfermeiro Pedro Carrapatoso -, mas a criação desta equipa tem que ser acompanhada da “centralização de toda a informação relativa à gestão do hospital em tempo real”, conforme sublinhado pela diretora clínica do Hospital de Braga. 

Solucionar com a UpHill: 

  • Implementação de sistema de suporte à decisão com clinical pathways intra-hospitalares com critérios de internamento, referenciação e alta bem definidos.

6. Prioridade aos modelos alternativos à hospitalização clássica tradicional 

E fechamos como começámos: a redução dos tempos de espera no Serviço de Urgência requer múltiplas estratégias capazes de reduzir as hospitalizações, reforçar a referenciação para outros níveis de cuidados e reduzir os riscos de alta.  
No que toca a soluções, Roberto Roncon, diretor clínico do CHUSJ, aposta nas estruturas paralelas - serviço social, estruturas comunitárias de apoio domiciliário e hospitais de dia em ambulatório. Já Nelson Pereira, nomeou a telemonitorização, a referenciação aos CSP e a hospitalização domiciliária. Em comum, a premissa de prevenir hospitalizações evitáveis.  

Solucionar com a UpHill: 

  • Seguimento automático de doentes crónicos de acordo com o nível de risco; 
  • Identificação automática de sinais de alerta que permitem detetar conveniente e antecipadamente a deterioração do estado de saúde; 
  • Capacitação do doente para o autocuidado e para reportar episódios de crise, aumentando a adesão ao plano de cuidados e antecipando futuras necessidades. 
A UpHill desenha e implementa jornadas clínicas digitais, baseadas na melhor evidência e com recurso à automação para aumentar a capacidade das instituições de saúde, acelerar e antecipar os cuidados, contribuindo para melhores resultados em saúde. Fale connosco para detalharmos como cada uma das soluções mencionadas pode ser ajustado às suas necessidades.
Matilde Ferreira

Matilde Ferreira

Content Strategy & Communication Manager

Graduated in Communication Sciences, early on fell in love with storytelling. Started off as a journalist and then pivoted to the public relations world, she was always driven to craft relevant stories and bring them to the stage.

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